Você nunca esquecerá o primeiro amor, seja ele o vizinho do lado ou um dos irmãos cantores Hanson. Faz sete anos que eles lideraram as paradas com o single MMMBop, mas Isaac, Taylor e Zac ainda têm devotos suficientes para obrigá-los a viajar sob nomes falsos. Ao fazerem o check-in em um hotel de Londres, o mais velho, Isaac, ou Ike, de 24 anos, pergunta em tom casual à relações públicas da banda se eles se registraram sob o pseudônimo usual. Pode soar afetação, mas ele fala sério:

- Você ficaria surpresa. Pessoas nos telefonam, recebemos mensagens de gente que não conhecemos...

Algo explícito?

- Outro dia, recebi um texto aleatório que dizia: 'Hey, baby, saudades, me liga'.

Ser um objeto de desejo deixa Isaac claramente embaraçado. E não apenas por ele estar namorando no momento. Aparentemente, ele e seus irmãos preferem apagar da memória o período em que causavam frenesi entre as garotas. Não se consideram mais nessa fase musical. A ex-banda de garotos se transformou em uma banda de homens crescidos que querem ser amados por sua música.

Os Hanson dizem que a fase teen-pop não foi culpa deles, mas dos executivos das grandes gravadoras, que os empurraram para a turba de adolescentes assanhadas. Tivessem eles seguido o curso original, o álbum de estréia, Middle of nowhere (1997), teriam sido colocados junto às bandas indies. Acabaram no mesmo saco que os Backstreet Boys, o que os frustrou. Quando o segundo álbum, o mais maduro, This time around, vendeu apenas alguns milhares de cópias, o trio foi transferido da Mercury Records para a o selo subsidiário Def Jam. Depois de torturantes meses, eles foram liberados do contrato. Livres para crescerem como compositores ''orgânicos'', passaram a colaborar com Sheryl Crow, John Shanks e o produtor Greg Wells, entre outros. Três anos de esforços em estúdio depois, e já em casa nova, em Nova York, o grupo produziu o seu terceiro álbum, Underneath, que será oficialmente lançado no início de fevereiro.

Embora não seja de forma alguma atraente, a verdadeira força de Underneath é a diferença que estabelece com a era Middle of nowhere dos Hanson. Os irmãos conseguiram se reinventar como músicos. Se eles superarão a desbotada imagem de banda de garotos, ainda não se sabe.

Na cabeça deles, essa transição aconteceu faz tempo. Durante as entrevistas de lançamento do novo álbum, esquivaram-se de tentativas de discutir os dias loucos de 1997. Taylor, tecladista e vocalista da banda, que recebeu propostas de casamento aos 14 anos, tenta lembrar daqueles tempos de forma positiva:

- Você aprende muito ao longo do caminho. Rala-se muito para tornar um disco bem-sucedido, fazer viagens, promoções... - lembra Taylor.

Isaacs, que compensa suas agradáveis feições duras com camisa e gravata, discorda.

- Não acho que tudo aquilo tenha tido seu valor - diz, ainda que reconheça que foram ''experiências deprimentes''.

Alto e cabeludo, Zac, o baterista, lembra-se de uma repórter britânica que, durante a primeira visita do grupo a Londres, há sete anos, ''só escreveu sobre o quão detestável eu era''. Ah, talvez tenha sido eu. Embaraçado, ele continua:

- Você não escreveu nada sobre a música, mas somente sobre a forma dura com a qual apertamos sua mão.

''Bem'', eu lhe disse, ''você tinha 11 anos e ficava berrando''. Apesar de tentar reagir com irreverência, isso o desarmou, porque os Hanson não desafiam. A franqueza do Meio-Oeste americano é o seu forte; eles respondem a cada pergunta de maneira prolongada, sem leviandades.

Os mais velhos de sete irmãos, o trio foi encorajado pelo pai, um contador, a pegar em instrumentos quase ainda na infância. O sucesso de meados dos anos 90 foi uma das raras coincidências de aclamação popular e de crítica - não apenas venderam milhões de discos, como o single MMMBop recebeu três indicações ao Grammy, e o álbum foi classificado como ''essencial'' para a década pela revista Rolling Stone. Os Hanson enfatizam como eles se mantiveram com o pé no chão o tempo todo. Perguntados sobre as diferenças entre eles e famosas famílias de artistas do passado, como os Osmonds, Zac responde:

- Eles foram pressionados por outras pessoas. No nosso caso, somos nós que fazemos pressão para seguirmos o caminho que escolhemos.

Uma vez famosos, como eles lidaram com as tentações que encontraram?

- Sexo, drogas e rock'n'roll? Você fica exposto à parte que lhe é de direito - admite Zac.

- Mas, no nosso caso, a motivação é subir no palco - interrompe Taylor.

Hoje casado e pai de um menino de 2 anos, Taylor acredita que ''qualquer droga, cocaína ou café'' diminui a excitação de uma apresentação.

A imprensa americana fez insinuações sobre um ''ferimento relacionado ao rock'' que Isaac teria sofrido recentemente. Mas esse perverso rumor descrevia, na verdade, um coágulo no braço, desenvolvido por tocar violão.

- Aquilo poderia ter me matado. Uma parte do coágulo desprendeu-se e foi para o coração. Eu ainda estou me tratando - explicou.

Tal bico se refere a um dos numerosos e bem-sucedidos shows que marcaram o retorno do grupo aos palcos, ano passado. Quando eles tocaram em Londres, em novembro, os rapazes conseguiram lotar os 1,2 mil lugares do Bush Empire. Seus fiéis fãs estavam lá.

Nos Estados Unidos, os Hanson hoje ganham o apoio de pessoas como Carson Kressley, do programa Queer eye for the straight guy, que bolou as roupas do grupo para uma sessão de fotos para uma revista. Também há os godos e os punks, talvez porque vejam neles um potencial kitsch. Os Hanson se empenham nessa suave escalada, reprovando o passado e investindo numa estudada aproximação com o presente. Não é surpresa descobrir que os três estão em relacionamentos sérios e que têm pouco tempo para mais coisas além de gravar, viajar e perambular nos apartamentos uns dos outros, no Brooklyn.

- Nunca imaginei que fosse casar cedo - diz Taylor.

- Ike sempre foi o romântico do grupo. Mas eu encontrei uma garota e me apaixonei.

Como que oferecendo um enérgico contraponto, Zac diz:

- Sou o irmão mais clássico, dentro dos limites do que faço como jovem.

E o que isso significa? Bem, ele dirige uma pick up equipada com uma cama, que é conhecida como carro-motel. É difícil acreditar que ele use o veículo com esses objetivos. Os irmãos Hanson são possivelmente os únicas astros do rock que, se confrontados por fãs fogosas, passariam a noite inteira falando sobre a coleção de discos deles.